quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O palhaço preso no nariz

O palhaço preso no nariz!
por Thiago de Góes
Inspirado no livro O Cavaleiro preso na armadura, de Robert Fisher 

Bolsalegre era o bobo da corte! Da rua, de casa e da vida. Fazia rir, pra não chorar. Era baixo e feio, como achava que deveria ser. Um dia, ouviu da mulher, Julieta: tire esse nariz, ao menos pra comer! Ele não conseguia. O nariz estava colado e não desgrudava por nada nesse mundo.

Bolsalegre não podia ficar triste. Temia ser demitido! Escondeu-se na floresta, para chorar sozinho. Passou por ele, montado num rocinante, o bruxo do cabelo roxo, que lhe disse: 

"Para livrar-se do nariz, você deve entrar e sair de três castelos: o da Vergonha, o da Culpa, e, por último, o da Responsabilidade! Leve o rato Calunga, que sabe por onde ir. Escreva um bilhete pra sua família. O corvo Chupim o entregará na sua casa e encontrará com vocês no caminho. Aqui estão as chaves!".

Bolsalegre caminhou até perder as forças. Calunga trouxe-lhe pequenas sementes para comer. Chupim voltou sem resposta para o bilhete. Julieta e o filho Cristóvão não sabiam do verdadeiro nome de Bolsalegre, e por isso nada responderam. Ele então chorou pela segunda vez,desbotando a maquiagem. Deitou-se e dormiu.

Quando acordou, estava no castelo da Vergonha. Alguém apontou o dedo para ele e depois gritou: Bolsalegre está nu! De repente, uma plateia de homens e mulheres carrancudos e bem vestidos lhe censurava com olhos de escárnio. Foi salvo, contudo, pelo Rei, que dele se apiedou. Falou sua majestade: Não dê ouvidos ao que dizem de você. Vista sua roupa e durma em paz!

Bolsalegre dormiu, e acordou no Castelo da Culpa. Ele vestia um luxuoso casaco de pele, enquanto os outros, inteiramente nus, agonizavam no tenebroso frio. Antes mesmo de esboçar qualquer reação, viu que estavam todos mortos, incluindo sua mulher e filho. 

Então ele chorou pela terceira vez. Novamente, o Rei surgiu para consolá-lo: Não se amarre no passado e siga em frente. Durma em paz!

De novo, Bolsalegre dormiu. Ao acordar, estava no Castelo da Responsabilidade. E pensar que, durante esse tempo inteiro, ele sempre esteve lá. Preso entre paredes invisíveis! Ele e o seu amigo imaginário, o menino que não podia rir... 

Estão procurando no lugar errado, pensava. Um dia, quem sabe, o mundo se dobre na sã desordem que cintila nos olhares pueris. 

Mas eis que, no jardim sem flores, plantaram sementes de sorriso frouxo e viram nascer um grande pé de risonhos. E os frutos não se comiam, mas se botavam na ponta do nariz. E aqueles que assim faziam deixavam rastros de luz nos caminhos da vida. E eis que as paredes sumiram e ele então percebeu que, finalmente, seu grande amigo já podia rir...

"Bom dia, pai! Cadê seu nariz?"

5 Thiago de Góes: O palhaço preso no nariz O palhaço preso no nariz! por Thiago de Góes Inspirado no livro O Cavaleiro preso na armadura, de Robert Fisher  Bolsalegre era o bobo da...

Nenhum comentário :

Postar um comentário